BEATRIZ LAPORTA (USP)
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http://lattes.cnpq.br/1884997419752167
Dissertação de Mestrado
Orientadora: Tessa Moura Lacerda
Data prevista de defesa: 10/01/2022
Fonte da imagem: https://www.journeylist.lu/downloads/descartes.pdf
Nesta pesquisa, o que surge como interesse é um dos pontos mais criticáveis pela tradição cartesiana à teoria do filósofo René Descartes. Desde os contemporâneos debatedores, até filósofos e comentadores posteriores, a questão da união substancial fez surgir novas teorias e novos métodos de conhecimento nas filosofias pós-cartesianas.
Seguindo uma rede de comentadores que acredita serem as grandes metafísicas pós-cartesianas, de um modo geral, proposições para superar o caráter incompreensível do regime causal em operação na união entre corpo e alma, vê-se que a concepção cartesiana da causalidade, principalmente quanto à união, trouxe grandes dificuldades para os filósofos do e posteriores ao século XVII. Essa dissertação defende que a união é um problema filosófico na medida em que não pode ser entendida distintamente, mas não é uma falha, muito pelo contrário, ela é justificada nesse projeto filosófico de Descartes. Busca-se mostrar que é a “raiz” metafísica e o “tronco” física que fundamentam a questão prática da moral, o plano do conhecimento da experiência e do sentimento, isto é, do conhecimento incerto e confuso.
Assim, defende-se que a impossibilidade de se entender distintamente como pode se dar a interação alma-corpo não é uma falha cartesiana e que o projeto de Sabedoria, isto é, a constituição de uma sabedoria total pelo sujeito, deriva da constatação de que a união substancial não pode, e não deve, estar no campo de conhecimentos claros e distintos. Além disso, pretende-se investigar como só seria possível a Descartes estabelecer seu projeto de árvore do saber a partir de uma questão metafísica, a saber, a união substancial, campo das ideias confusas e incertas. E mais, o estudo que aqui se almeja deverá justificar e desenvolver os pontos necessários para demonstrar por que Descartes precisou que seu projeto de Sabedoria assim fosse feito, a saber, partindo de uma raíz bem estruturada pelo método da clareza e distinção, para o estabelecimento do ser humano no campo da experiência e do sentimento.
Quer-se apontar que Descartes não pretendeu em nenhum momento se fixar no sujeito enquanto pensante, isto é, que já havia um espaço em sua filosofia - mesmo antes da produção do Tratado das Paixões - para a união da alma com o corpo como uma união substancial. Isso pois, na carta prefácio aos Princípios da Filosofia, ao colocar como objetivo de sua filosofia a construção de uma árvore do saber, em que a metafísica seria a raiz, a física o tronco e a moral um dos galhos, e ao construir nas Meditações Metafísicas uma metafísica pautada pelo método rigoroso de conhecimento certo e indubitável, o autor precisava de um ponto no qual pudesse lidar com o sujeito como pensante, mas principalmente como unido a um corpo. E, através da terceira noção primitiva explicada por Descartes na Correspondência com Elisabeth, ele mostra que a união é um conhecimento claro, mas não distinto, além de indicar a pretensão, dentro de seu plano de conhecimento, do estabelecimento de uma física não hipotética e de uma moral e uma medicina que lidassem com o ser humano enquanto alma unida a um corpo.
Porém, não está dentro do escopo dessa dissertação analisar a união substancial somente por meio das questões morais ou a partir de uma releitura das Meditações buscando justificar a apresentação das substâncias enquanto unidas, pois acredita-se que existem inúmeros trabalhos consolidados sobre o assunto. Antes, busca-se trazer o problema do dualismo cartesiano em uma perspectiva de leitura da Obra de Descartes a partir dos sentidos de unidade e percurso. Além disso, não foi proposto seguir rigorosamente a ordem da árvore na divisão de capítulos (como se a cada capítulo fosse obrigatório apresentarmos uma obra publicada de Descartes que trate somente de metafísica, física e dos ramos, nessa ordem, por exemplo) pois, para a argumentação, se tornou mais fundamental que a discussão sobre o método entrasse no segundo capítulo, e que no terceiro fosse possível investigar detidamente a crítica de Elisabeth da Boêmia.
Portanto, a proposta dessa pesquisa se pauta em contribuir com o repertório de análise cartesiano a partir de uma aparente contradição em seu percurso teórico e, em específico, compreender como a partir da união substancial Descartes conseguiu incorporar em sua filosofia o plano do conhecimento incerto e confuso, isto é, o plano do conhecimento da experiência e do sentimento, possibilitando passar da metafísica para a física e depois a moral em sua árvore do saber, sem que abandonasse sua pesquisa metafísica, mas ao contrário, integrasse as certezas que o método lhe trouxe nos demais conhecimentos que buscava.
Referências:
DESCARTES, R. As paixões da alma; Correspondência; Discurso do Método; Meditações Metafísicas. In: Os Pensadores. Trad de Bento Prado Jr., Jacó Guinsburg. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
____________. Regras para a direção do espírito. Trad. Port. De João Gama. Lisboa: Edições 70, 1989.
______________. Princípios da Filosofia. Lisboa: Edições 70. 1997.
______________. Carta-prefácio dos Princípios da Filosofia. Apresentação e Notas: Denis Moreau; Trad: Homero Santiago. SP: Martins Fontes, 2003.
______________. El tratado del hombre. Madrid: Alianza Editorial, S.A, 1990.
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