MARIA LUIZA IENNACO DE VASCONCELOS (USP)
http://lattes.cnpq.br/7275202884165313
Dissertação de mestrado
Orientador: Osvaldo Frota Pessoa Junior
Data prevista de defesa: 01/03/2023
Fonte da Imagem: https://unsplash.com/photos/LG3CHxnBH2o
A presente pesquisa objetiva contribuir para o avanço do debate neuro-filosófico acerca da consciência, bem como verificar a possível aplicação de um modelo particular de entendimento filosófico em um proeminente quadro teórico contemporâneo subjacente ao atual cenário de pesquisa empírica acerca da cognição humana. Para tanto, partiremos do pressuposto dennettiano de que o estudo empírico da consciência há de ser trabalhado internamente a uma perspectiva “ilusionista” (isto é, rejeitando a visão de que a consciência consistiria em qualidades mentais privadas e argumentando que ela envolve uma relação física com o mundo através de uma rede de reações e sensibilidades informacionais), e que a maneira através da qual interpretamos nossas funções cognitivas pode elucidar a compreensão do funcionamento da assim chamada “experiência consciente”. O quadro teórico para o estudo da cognição aqui explorado consiste na teoria do Processamento Preditivo (PP), a qual trata nosso aparato neural como incapaz de possuir qualquer acesso direto aos estados de nossos corpos e seus arredores, limitando-se, portanto, à realização de inferências sobre eles. Esse quadro teórico vem cada vez mais sendo aplicado por análises filosóficas – principalmente nas obras de Jakob Hohwy (2014) e Andy Clark (2013, 2016) – bem como em estudos neurocientíficos – particularmente por Karl Friston (2005).
Conforme veremos, embora o PP tenha se mostrado deveras promissor e competente na elucidação da cognição humana, concebendo-a como um “modelo bayesiano de probabilidade posterior” (o qual, dadas as evidências, processa primeiro um conjunto de hipóteses preditivas para depois delegar possíveis causas ao estímulo, realizando, portanto, o mapeamento das sensações perceptivas para as causas), ele ainda apresenta certas incongruências em relação à sua exposição de nossa “vida mental”, devido à ausência de um maior esclarecimento acerca da distinção entre estados conscientes e inconscientes. Dessa forma, (1) utilizaremos o modelo dos Múltiplos Esboços do filósofo Daniel Dennett (1991) – o qual concebe a consciência como o resultado da combinação de múltiplos e paralelos fluxos de informação processados pelo cérebro, sondados em um momento qualquer no tempo e no espaço – em vista de minimizar tal questão ao “traduzirmos”, em termos “ilusionistas”, como o PP poderia explicar a ocorrência de processos conscientes e inconscientes no cérebro – particularmente naquilo que tange a uma possível “sondagem de nossas intuições perceptivas”. Posteriormente (e por último), (2) nossos objetivos se voltarão à exploração da capacidade de a literatura empírica neurocientífica já existente, acerca do delineamento e transição entre processos conscientes e inconscientes por meio do agenciamento do PP, poder elucidar a aplicabilidade de tal modelo, e de sua – cada vez mais popular – variante teórica enativista (isto é, sua interpretação filosófica conforme o argumento de que a cognição “emerge” desde a interação dinâmica entre organismos atuantes e seus ambientes) poder expandi-lo, de maneira a auxiliar e intensificar o emergente influxo contemporâneo de estudos científicos genuinamente interdisciplinares acerca da consciência.
Com isso em mente, nossas conclusões preliminares apontam para a plausibilidade de que, indo muito além das habituais discussões neurocientíficas acerca de problemas relacionados à sua unificação e conteúdo, a experiência consciente talvez possa ser explorada científico-cognitivamente de forma mais compreensiva, ao transpormos para o PP todo um conjunto de concepções dennettianas que nos permitiria tratar as qualidades subjetivas das sensações conscientes como apenas parte de um relato introspectivo, produzido pela sondagem (por nossos cérebros preditivos) de nossos múltiplos esboços cognitivos. Em outras palavras, acreditamos ser viável conceber que, aquilo que é comumente conhecido como “qualia” talvez seja, meramente, uma inversão de nossas expectativas e reações endógenas, uma inferência bayesiana realizada pelo sujeito ao prever a disposição de seus estados internos necessária para minimizar os erros de predição envolvidos nas experiências em questão.
Referências bibliográficas
CLARK, A. Whatever next? Predictive brains, situated agents, and the future of cognitive science. Behavioral and Brain Sciences, v. 36, n. 3, p. 181-253, 2013.
______. Surfing Uncertainty: Prediction, Action, and the Embodied Mind. Oxford: Oxford University Press, 2016.
DENNETT, D. Consciousness Explained. Londres: The Penguin Press, 1991.
FRISTON, K. A theory of cortical responses. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 360, n. 1456, p. 815-836, 2005.
HOHWY, J. The Self-Evidencing Brain. Noûs, v. 50, n. 2, p. 259-285, 2014.
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