Neste mês de março, a enciclopédia audiovisual de Filosofia lançou o verbete "Feminismos", feito pela profa. Dra. Izilda Johanson (Unifesp).
Assista acessando o link: https://youtu.be/-f5DwnQ6S1o
Feminismo diz respeito, antes de tudo, a modos de inserção de indivíduos, de pessoas, ou de um agrupamento de pessoas, no mundo, isto é, na vida e na prática social nas quais esses indivíduos, essas pessoas, concretamente existem. Feminismo tem a ver, portanto, com o que caracteriza e identifica ações e pensamentos; tem a ver com modos de se posicionar frente ao conhecimento e à ação prática - isto é, de se posicionar politicamente - e de interferir, de maneira consciente e deliberada, na realidade concreta em que se vive.
Posicionamentos e práticas feministas pressupõem a constituição de uma consciência - que, já sabemos, não nasce pronta na mente das pessoas, mas precisa ser sempre aprendida e cultivada - de que a sociedade em que vivemos e aquela na qual agimos e visamos interferir pertence a um conjunto de sociedades mais ou menos diversas, no entanto, profundamente marcadas por desigualdades e assimetrias de poder, principais fontes de violência social em geral e de gênero em particular, as quais, por sua vez, são frutos de opressões de toda sorte (de gênero, de raça, de orientação sexual, de classe, de origem social, geográfica, cultura) as quais, por princípio e de fato, causam muitos sofrimentos a muitos e muitos, e para que muitos poucos possam viver sua vida o melhor possível.
Há feminismos que atuam sob a consideração de que as diversas opressões podem ser pensadas e entendidas destacadamente umas das outras, que acreditam que é possível e viável combater um tipo de opressão, particularmente a de gênero, sem necessariamente se envolver nas demais. Há feminismos, bem ao contrário desses, que pensam e entendem que as opressões não existem de modo independente umas das outras, mas de modo entrelaçado e que sua força e eficácia advém justamente desse entrelaçamento; assim como a luta pela libertação em relação a essas opressões, ou seja, a luta por um mundo mais igualitário e com justiça social, parte também do reconhecimento de que é impossível atacar uma frente de opressão - por exemplo, o sexismo e o machismo - sem que as demais (o racismo, o colonialismo, a heteronormatividade, a cisnormatividade, entre outras) o sejam também, e conjuntamente.
Começamos, assim, a responder por que o mais apropriado quando pensamos ou falamos de feminismo é fazê-lo no plural, em termos de feminismos. Porque os modos de conhecer, de agir, de interferir e de pensar o mundo concreto, ainda que dentro de um mesmo ponto de vista feminista, podem ser múltiplos e diversos; assim como podem e geralmente são diversos os entendimentos acerca das práticas consideradas libertárias e libertadoras que visem à igualdade entre todos, todas e todes.
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