Talvez esse livro Filósofas seja uma reação à famosa coleção “Os Pensadores”, que não contém nenhuma pensadora em seus 52 volumes de 25 séculos de filosofia. Mas talvez seja mais do que isso. Talvez seja a expressão de que nós, filósofas brasileiras, estamos ganhando cada vez mais consciência de que o que já se produziu em filosofia pelas mulheres é extremamente profundo e transformador e que o que nós queremos é uma completa revisão feminista da história da filosofia. Uma história que não apenas inclua mulheres filósofas, mas que se abra para novos objetos, questões e temas e novas formas de argumentar, imaginar e produzir conhecimento. A pergunta que não quer calar diante desse tipo de produção de conhecimento feito por homens filósofos é a seguinte: uma filosofia que justifica as desigualdades sociais existentes e naturaliza opressões não seria ela mesma opressiva? Esse tipo de filosofia falocrática ou de bases misóginas e racistas não produziria graves consequências epistemológicas e éticas? O livro Filósofas surge como uma resposta que resiste e subverte o atual statuo quo branco masculino e europeu do cânone filosófico. E como disse Yara Frateschi:
"Acaba de sair do caldeirão o já histórico livro Filósofas, com mais de quinhentas páginas escritas por mãos brasileiras, majoritariamente por mulheres. Há poucos anos atrás esse livro não seria possível, tornou-se porque as mulheres da área de filosofia - professoras e alunas, tanto de graduação quando de pós-graduação - se organizaram localmente e se uniram nacionalmente para combater a desigualdade de gênero absurda que faz com que 73% da comunidade filosófica seja de homens, com evasão enorme de mulheres ao longo da carreira. Além de estar lindo, com textos de e sobre filósofas - que sempre existiram, mas não tiveram o direito de entrar para o cânone -, esse livro é também uma ação política. Estamos disputando um espaço de poder e queremos entrar nele com outras práticas e valores; queremos recontar a história da filosofia trazendo para o centro quem esteve às margens; queremos que a filosofia deixe de ser um território quase que exclusivamente masculino e branco e, sobretudo, combater a evasão das nossas alunas. Espero que quando os obstáculos para a sua permanência parecerem insuperáveis, elas peguem esse livro nas mãos e digam: eu posso ser uma filósofa".
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