Rita de Cássia Fraga Machado
Professora de Filosofia na Universidade do Estado do Amazonas e Ecofeminista.
El feminismo requiere democracia en la sociedad. Más aún, la democracia
debiera contenido de su definición. Se trata de una democracia construida
a partir del reconocimiento de las formas de poder que genera y en
las que se inserta, a partir también del análisis de las formas en que se da la
opresión política entre mujeres feministas. (Lagarde y de Los Ríos, 2016,p.21)
A primeira vez em que escutei o termo Sororidad, pela filósofa mexicana Marcela Lagarde, fiquei muito curiosa. E, quando me aproximei do termo, percebi que ele estava sempre ligado à democracia. Lagarde diz que a Sororidad faz parte da nova cultura das mulheres, pois se trata de uma nova forma de relacionamento, trata-se de uma aliança entre mulheres. Eu entendo essa nova forma relacionamento a partir do momento que estamos vivendo hoje no Brasil, momento que propicia o aprofundamento dessa relação. O termo é difícil de ler. Primeiro, porque ele é cunhado em espanhol, e, depois, porque a filósofa fala de algo utópico, mesmo que uma utopia feminista possível. Quando pensamos em relação entre mulheres, poucas são as memórias coletivas e solidárias. Os movimentos feministas as possuem em maior grau, mas com suas contradições. Essa reflexão nasce de uma necessidade e da importância de retomarmos com vigor esse termo. Eu não vejo outro momento, pelo menos mais próximos, de nos aliarmos. A pandemia está aí, e o rosto dela é de mulheres, e é sobre isso que gostaria de dedicar essa reflexão.
Para Lagrade, a Sororidad é uma “dimensión ética, política y práctica del feminismo contemporáneo. Es una experiencia subjetiva de las mujeres que las conduce a la búsqueda de relaciones positivas y a la alianza existencial y política, cuerpo a cuerpo, subjetividad a subjetividad con otras mujeres, para contribuir a la eliminación social de todas las formas de opresión y al apoyo mutuo para
lograr el poderío genérico de todas y el empoderamiento vital de cada mujer” (Lagarde y de Los Ríos, 2016,p.21). Assim, podemos entender que a sororidade pode ser compreendida como solidariedade entre as mulheres como uma dimensão necessariamente feminista.
Sororidade também pode ser compreendida como a “conciencia crítica sobre la misoginia, sus fundamentos, prejuicios y estigmas, y es el esfuerzo personal y colectivo de desmontarla en la subjetividad, las mentalidades y la cultura, de manera paralela a la transformación solidaria de las relaciones con las mujeres, las prácticas sociales y las normas jurídico políticas”. (Lagarde y de Los Ríos, 2016,p.21).
Assim, enfrentar o momento atual de uma lógica cruel, desumana e misógina requer mesmo que haja muita aliança entre nós, mulheres. E precisamos retomar a ideia de uma relação cooperada com a natureza e de uma formação humana aliada às questões de valores éticos que respeitem as humanidades. Enfrentar a pandemia requer que ousemos no uso da inteligência em detrimento a ignorância que parece tomar as mentes brasileiras. Nossa tarefa como filósofas é barrar o avanço da ignorância, pois a filosofia é sim um antídoto a ela. Precisamos nos aproximar de outras mulheres e construir epistemologias que considerem as questões da solidariedade, da razão e da afetividade. É necessária uma revolução dos afetos. As mulheres podem, conseguem e estão fazendo isso, sob uma união de conhecimentos e dimensões e com bases humanas anticapitalistas.
Essa reflexão também é um agradecimento à rede de pensadoras (a todas) e professoras que construíram o curso As Pensadoras, em um movimento forte de mulheres filósofas em solidariedade com as mulheres indígenas e ribeirinhas da região do médio Solimões Amazonas.
Referências
Lagarde y de Los Ríos, Marcela. SORORIDAD. In: CASTRO, Amanda (Org.); MACHADO, Rita. Cássia. (Org.). Estudos Feministas: Mulheres e Educação Popular. 1. ed. Curitiba: Editora CRV, 2016. v. 1. p-21-30.
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