CRISTIANE MARIA MARINHO (UFG)
Tese de doutorado concluída
Orientador(a): Profa. Dra. Adriana Delbó
Data de defesa: 30/11/2020
Imagem extraída de: https://nochedelmundo.files.wordpress.com/2017/01/foucault-butler.jpg?w=1000
A presente pesquisa tem por objetivo apresentar a analítica do poder e a noção de resistência no pensamento de Michel Foucault, bem como explicitar como Judith Butler dialoga com esses conceitos e os redimensiona em uma leitura original e atualizada da governamentalidade neoliberal contemporânea. A tese aqui defendida foi que, para esses dois filósofos, existe uma importância decisiva do processo de subjetivação tanto no exercício das relações de poder da governamentalidade neoliberal quanto na formação de resistências a essa governamentalidade, mais especificamente, na contemporaneidade ético-político-econômica do neoliberalismo dos séculos XX e XXI.
Inicialmente, apresentou-se a analítica do poder foucaultiana, com ênfase nos processos de subjetivação no exercício dos dispositivos de poder moderno e contemporâneo, e na proposta butleriana sobre a necessidade de se realizar uma nova analítica do poder que atualizasse o que Foucault defendeu, mas partindo dos novos movimentos do poder contemporâneo e explicitando a ressurgência da soberania no seio da governamentalidade. Em seguida, foi aprofundada a noção de governamentalidade neoliberal, caracterizando o neoliberalismo alemão e norte-americano e, seguindo a análise foucaultiana, demonstrou-se que o neoliberalismo é mais que um regime econômico: é uma racionalidade neoliberal, sendo o processo de subjetivação uma categoria decisiva no seu exercício de poder.
Explicitou-se, ainda, a interlocução de Butler com essas questões foucaultianas em relação ao assujettissement, na qual critica Foucault por desconsiderar o potencial de subversão da psique nas análises do poder e na formação de resistência ao exercício da governamentalidade. Por fim, foram abordadas as possibilidades de resistência ao poder da governamentalidade neoliberal, em Foucault e Butler, e seu embate agonístico, além de uma breve genealogia da noção de resistência na obra foucaultiana, explorando a importância dos processos de subjetivação tanto no exercício do poder governamental quanto no exercício da resistência aos dispositivos de poder a partir das práticas de liberdade, da estética da existência e também da Crítica - considerando as noções de parresía e contraconduta. Mostrou-se, ainda, que Butler, inspirada em Foucault, pensa a centralidade dos processos de subjetivação na resistência à governamentalidade neoliberal a partir: da crítica foucaultiana como virtude; da política performativa; da precariedade neoliberal; da aliança das diversidades em busca de reconhecimento; da interdependência pós-identitária. E o faz sem recusa da afirmação das identidades.
A pesquisa, intitulada "Processos de subjetivação, governamentalidade neoliberal e resistência: uma leitura a partir de Michel Foucault e Judith Butler", foi conduzida por três noções: poder, subjetividade e resistência, inseridas no âmbito mais delimitado da contemporaneidade político-econômica, tendo por contexto histórico o neoliberalismo dos séculos XX e XXI. Esses três elementos sustentam o trabalho de tese de doutorado que, especificamente, consiste em mostrar a importância do processo de subjetivação na governamentalidade neoliberal presente na analítica do poder foucaultiana e as possibilidades de resistência a esse poder, bem como indicar como Butler dialoga com esses conceitos e os redimensiona em uma leitura própria e atualizada da governamentalidade neoliberal contemporânea. A questão central e mais ampla geradora desta investigação foi a reflexão em torno da política e da ética contemporâneas e de algumas de suas distinções em relação ao contratualismo político (de caráter abstrato) da modernidade. Esta questão disparadora tem importância para a problemática tratada nesta tese na medida em que se observa que, diversamente da Filosofia Moderna, na Filosofia Contemporânea, principalmente em Butler e Foucault, existe uma proposta ético-política pensada em base imanentista que considera as singularidades dos processos de subjetivação e as especificidades das lutas de resistência, mas sem perder a dimensão coletiva da luta ético-política.
No primeiro capítulo da tese, "A condução de condutas nas Analíticas do poder em Foucault e Butler", os três primeiros itens mostram o registro conceitual foucaultiano sobre o poder e o quarto item apresenta a retomada, por Butler, de algumas das noções centrais da analítica do poder foucaultiana, para fazer uma leitura atualizada da realidade e, de certa forma, apresentar a necessidade de se fazer uma nova analítica do poder. Nesse âmbito, Foucault compreende o poder como relações imanentes, descentralizados, sem uma existência metafísica e unitária. Portanto, não haveria uma teoria do poder, mas sim das relações de poder. A reconstituição da trajetória dessa analítica do poder em Foucault visa chegar à noção de governamentalidade, central nessa investigação, como a forma política predominante na contemporaneidade.
O segundo capítulo, "Governamentalidade neoliberal e processos de subjetivação", se detém na noção de governamentalidade e, mais especificamente, na governamentalidade neoliberal, caracterizando o neoliberalismo alemão e norte-americano; indica o processo de subjetivação como categoria central na racionalidade neoliberal; e, por fim, mostra a interlocução butleriana com essas questões foucaultianas e seus momentos de convergência e avanços em relação a elas. Já o terceiro e último capítulo, "Processos de subjetivação, relações de poder e resistência à governamentalidade neoliberal em Foucault e Butler", aborda as possibilidades de resistência ao poder da governamentalidade neoliberal nesses dois filósofos. Com a mesma estrutura dos capítulos anteriores, quatro itens, trata do embate agonístico entre poder e resistência à governamentalidade neoliberal em naqueles autores.
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