GT FILOSOFIA E GÊNERO
JUANA INÉS DE LA CRUZ
Nascimento: 1648 (?)
Morte: 17 de abril de 1695
Estevam Strausz
Graduando em Filosofia, UFRJ
Retrato de Sor Juana Inés de la Cruz en su biblioteca por Miguel Cabrera (1750).
Fonte: Wikimedia Commons.
1. BIOGRAFIA
É uma tarefa difícil tratar da biografia de Juana Inés de la Cruz: são muitas as divergências entre seus biógrafos em termos de interpretação, de acesso a documentos históricos, etc. Nenhuma das biografias, ou estudos biográficos, existentes ocupam uma posição paradigmática que cumpra todas as exigências que essa figura histórica nos impõe. Para evitar depender de um só olhar da vida de Juana Inés, serão apresentadas, durante a sessão biográfica desse verbete, algumas das divergências sobre os aspectos mais problemáticos de sua biografia. Evitando que isso torne o texto saturado de exposições sobre seus biógrafos e pesquisadores, está inclusa, a seguir, uma breve apresentação de suas principais biografias e estudos biográficos.
Em termos de biografias contemporâneas à autora, temos dois textos: a Aprobación do padre jesuíta Diego Calleja e a Respuesta a Sor Filotea de la Cruz, da própria Juana Inés. Ambos estão incluídos no terceiro volume de obras completas, Fama y Obras Posthumas del Fénix de Mexico, editado por Juan Ignacio de Castoreda e publicado em Madri, 1700. Além destes, alguns documentos da época também nos trazem informações relevantes.
A Respuesta é um dos textos mais importantes de Juana Inés. Trata-se de uma resposta às críticas que Fernández de Santa Cruz, sob o pseudônimo Sor Filotea de la Cruz, fez à autora ao publicar a famosa Carta Atenagórica. É a principal fonte de informações sobre a infância da autora, mas deve ser lida com um olhar crítico quanto à sua qualidade biográfica. É uma autodefesa antes de ser uma autobiografia, e se nos traz muitos dados sobre sua vida, oculta também muitos outros; não mencionando, por exemplo, os seus anos de vida na corte. A Respuesta narra sua vida com o fim de justificar sua produção intelectual e literária, e uma biografia só é apresentada na medida em que é necessária para esse fim.
A Aprobacíon de Calleja, por sua vez, é muitas vezes criticada por se aproximar muito de uma hagiografia. É um texto que tece uma narrativa santificante da escritora, e que, para melhor encaixá-la nesse molde, faz diversas suposições e ignora ou obscurece trechos de sua vida. Desta forma, aspectos não ortodoxos da sua vida e pensamento são ofuscados, quando não excluídos, da narrativa. Além disso, Calleja apresenta algumas informações incorretas, tais como diversas datas, incluindo as de nascimento e batismo, o seu sobrenome paterno, entre outras. Não se sabe também qual era a relação entre Calleja e Juana Inés; o padre afirmava que os dois mantinham uma correspondência, mas ela nunca o mencionou por nome, e se eles de fato tinham uma correspondência, as cartas não foram encontradas.
No século XX ocorreu um ressurgimento no interesse pela obra e biografia de Juana Inés, que foi pouco estudada nos séculos XVIII e XIX. A estadunidense Dorothy Schons é a primeira pesquisadora que visa a produção de uma biografia crítica e que apresenta uma interpretação feminista dos tópicos mais problemáticos da vida da autora — além de ser responsável pela descoberta de diversos documentos e textos inéditos. A primeira sorjuanista, como ficou conhecida, nunca publicou uma biografia (há um manuscrito de um romance biográfico, mas nunca foi publicado), porém produziu alguns artigos e ensaios que tratam do tema: The First Feminist of the New World (1925), Some Bibliographical Notes on Sor Juana Inés de la Cruz (1926), Some Obscure Points in the Life of Sor Juana Inés de La Cruz (1926), Carta abierta al Señor Afonso Junco (1934) e Algunos parientes de Sor Juana (1934).
Já nos anos 80, Octavio Paz publica Sor Juana Inés de la Cruz o las trampas de la fé, talvez a obra mais abrangente sobre Juana Inés. Paz não só apresenta toda a vida da autora, como também diversas análises sobre seus textos, influências, contexto histórico, a literatura barroca hispânica em geral, a vida no convento e na corte — os códigos morais e o papel das mulheres nesses espaços —, e mais. Vale considerar que desde então ocorreu um grande ressurgimento no interesse na vida e obra de Juana Inés,
1.1 INFÂNCIA
Juana Inés de Asuaje y Ramírez de Çantillana nasceu em San Miguel Nepantla, um povoado aos pés do vulcão Popocatépetl e hoje a cidade de Tepetlixpa, próxima à Cidade do México, batizada em em 2 de dezembro de 1648. Calleja, e muitos biógrafos desde então, afirmam que Juana Inés teria nascido em 1651, mas sua certidão de batismo, onde consta que o batismo ocorreu em 1648, mostra que isso não seria possível.
Filha do capitão espanhol Pedro Manuel de Asuaje y Vargas com Isabel Ramírez Çantillana, seria considerada uma criolla: seu pai era espanhol e sua mãe, americana de descendência espanhola. No documento de batismo consta a expressão hija de la iglesia, usada para indicar que era filha natural — ou seja, que não era filha legítima.
Na sua Respuesta a Sor Filotea de la Cruz, temos uma breve descrição de sua infância com a intenção de descrever sua “inclinação”, i.e., seu gosto pela literatura e obsessão pelos estudos. Passou seus primeiros anos na fazenda de seu avô materno. Lá, frequentemente se escondia na biblioteca para estudar, apesar de ser punida por isso. Juana Inés relata que, aos três anos, seguiu sua irmã, que foi mandada a uma escola, e convenceu a professora a lhe ensinar a ler e escrever. Aos seis ou sete anos, tentou convencer sua mãe, em vão, a vestir-se de homem para que pudesse entrar na universidade na Cidade do México.
Calleja relata que Juana foi enviada à Cidade do México aos oito anos para viver com o avô, onde teria encontrado sua biblioteca. A própria Juana, porém, situa sua convivência com o avô, e com a biblioteca, antes de sua ida à Cidade do México, que só teria ocorrido após a morte dele. Ainda na fazenda, portanto, conseguiu um professor particular para lhe ensinar latim, mas não teve mais de vinte aulas. Diz Calleja que seu professor foi o bacharel Martín de Oliva, a quem Juana, posteriormente, dedica um soneto acróstico comparando-o a Arquimedes. A autora relata que, como forma de autodisciplina nas suas aulas de latim, media seu cabelo e cortava de 10 a 15cm. Caso ele crescesse de volta ao tamanho original e ela não tivesse aprendido o que se propôs a aprender até então, ela o “[...] cortava de novo por sua estupidez.” (Respuesta, 263), dizendo que não parecia certo que sua cabeça fosse cheia de cabelo mas vazia de conhecimento.
Seu avô, Pedro Ramirez, morreu em janeiro de 1656. Pouco depois, sua mãe teve seu primeiro filho com o capitão Diego Ruiz Lozano. Sabe-se que em algum momento por volta dessa época Juana é enviada para a Cidade do México para viver com sua tia materna María Ramirez, casada com Juan de Mata. A Respuesta ignora os anos seguintes.
1.2 VIDA NA CORTE
Em 1664, chegam ao México o novo vice-rei e vice-rainha: o segundo marquês de Mancera, Dom Antonio Sebastián de Toledo e sua esposa, Dona Leonor Carreto. Juana então já tinha por volta de 16 anos, tendo vivido oito anos com os tios, que a levaram ao palácio do vice-reino para ser apresentada à vice-rainha. Foi admitida na corte e entrou com título de “muito querida da senhora vice-rainha”.
Na corte da Cidade do México, sendo essa a capital de toda a Nova-Espanha, circulavam não só o alto clero e a nobreza, mas também poetas, teólogos, filósofos, matemáticos de toda esfera ibérica. Juana Inés não tardou a conquistar a admiração, e proteção, dessas figuras, marcando o início da fama que a acompanharia pelo resto da vida. Dentre estas figuras se destaca a vice-rainha, Leonor Carreto, cuja relação com a poeta superou a formalidade da convivência na corte. Leonor também era escritora e estudiosa, e a ela Juana dedicou muitos sonetos e poemas amorosos. Adquiriu também a admiração do vice-rei, que teria reunido, de acordo com Calleja, quarenta teólogos, filósofos, matemáticos, humanistas etc. para testar o conhecimento da jovem poeta. O marquês de Mancera relata então que Juana “à maneira de um galeão real [...], se defenderia de alguns barquinhos que sobre ela investiram, assim se desembaraçava Juana Inés das perguntas, argumentos e réplicas que tantos, cada um em sua classe, lhe propuseram” (CALLEJA, D. Aprobación, 1700).
Na corte do vice-rei conheceu também o padre jesuíta Antonio Núñez de Miranda, teólogo e membro do tribunal do Santo Ofício, que se tornou seu confessor. Figura muito influente na Nova-Espanha, Núñez convenceu Juana Inés a ingressar na vida conventual e negociou seu dote.
Sobre o ingresso de Juana Inés na ordem carmelita, e depois na de San Jerónimo, podemos contar novamente com o testemunho da Respuesta. A autora realça que aceitara a vida monástica pelo desejo de um espaço onde pudesse estudar sem ser perturbada e pela extrema aversão que tinha ao casamento, e não propriamente por inclinação à vida religiosa.
1.3 VIDA NO CONVENTO
Aos 20 anos, Juana entra como noviça no convento de San José de las Carmelitas Descalzas, de ordem conhecida por sua severidade, onde passa somente três meses. Seus críticos católicos muitas vezes ignoram esse episódio, ou relatam que Juana deixara a ordem por questões de saúde. Um ano e meio depois, em 1669, Juana ingressa no convento criollo de Santa Paula da Ordem de San Jerónimo, que seguia a Regra Agostiniana.
O convento de San Jerónimo, como muitos outros conventos da Nova-Espanha, não era um espaço de completa reclusão religiosa e vida comunitária — as freiras possuíam celas individuais de dois andares com cozinha, sala de estudo e empregadas. Ocorriam apresentações musicais e peças de teatro abertas ao público, e até bailes e festas seculares; podiam manter contato com o mundo secular por cartas, ou recebendo visitas. O voto de pobreza também não era seguido: muitas possuíam livros e jóias — no caso de Juana Inés, uma biblioteca considerável; Calleja estima quatro mil livros, Octavio Paz, ao menos 1,5 mil.
Em 1673 é apontado o novo vice-rei, o Arcebispo da Cidade do México Payo Enríquez de Ribera, que mantém o cargo até 1680. Não se sabe muito sobre estes sete anos da vida de Juana Inés, principalmente pela falta de documentos, e só cinco vilancetes e duas loas podem ser datadas nessa época.
Em 1680 o Frei Payo deixou o cargo. O então novo vice-rei é dom Tomás Antônio de la Cerda, marquês de La Laguna e primo de Payo Enríquez. No mesmo ano encomendam a construção de dois Arcos para a chegada do novo vice-rei, um na praça de Santo Domingo, e outro na entrada da catedral da cidade. Juana Inés é responsabilizada pelo segundo, e escreve uma prosa que acompanha o arco, descrevendo a construção, as imagens e as alegorias. O próprio arco não sobreviveu aos séculos; foi construído em cerca de um mês com madeira e gesso, mas o texto que o acompanha, Neptuno alegórico, oceano de cores, simulacro político, o descreve em grande detalhe e contém uma ilustração da construção. O arco e texto de Juana agradaram ao vice-rei e sua esposa, María Luisa Manrique de Lara y Gonzaga, que se tornaram protetores da autora.
Neptuno Alegórico. Reprodução de Georgina Sabat de Rivers (En busca de Sor Juana, México, UNAM, Facultad de Filosofía y Letras, 1998). Fonte: Cervantes Virtual.
Entre 1680-86 é o período mais produtivo de Sor Juana, coincidindo com o mandato do marquês de La Laguna. São escritos seus autos sacramentales, dentre eles o mais conhecido, El divino Narciso — além de duas comédias e muitas poesias. Se tornou muito próxima à vice-rainha, que anos depois ajudou-a a publicar o primeiro e segundo volumes de suas obras em Madri, tornando-a a primeira mulher a publicar um livro no mundo hispânico. Juana adquiriu diversos instrumentos para experiências nas ciências naturais e desfrutou de certa influência política, sendo eleita a administradora do convento de San Jerónimo e se envolvendo em esquemas de trocas de favores.
1.4 POLÊMICA E ÚLTIMOS ANOS
Em 1690 o bispo de Puebla, Manuel Fernández de Santa Cruz, amigo de Juana Inés desde, ao menos, o vice-reinado de Payo Henríquez, encomenda uma crítica ao Sermão do Mandato do Padre Antônio Vieira, de 1650, pronunciado na capela real de Lisboa. Juana aceita, mas exigindo que o texto não fosse publicado, explicitando que seria de natureza privada. Poucos meses depois circula uma publicação do texto, intitulado Carta Atenagórica. Junto à publicação, foi incluída uma breve carta dirigida a Juana Inés, assinada por Sor Filotea de la Cruz, ao mesmo tempo elogiando a retórica e o conhecimento da poeta e criticando sua dedicação a assuntos mundanos, sugerindo, por fim, que se dedicasse completamente a assuntos teológicos e à vida conventual.
Sabe-se que Sor Filotea de la Cruz é um pseudônimo, e que o comentário fora escrito pelo próprio bispo de Puebla, Manuel Fernández, que publicou o texto. Os motivos do bispo não são claros, mas Octavio Paz, sustentando-se na interpretação de Dario Puccini, afirma a possibilidade de que se tratasse de uma disputa entre o bispo de Puebla e o arcebispo Francisco de Aguiar y Seijas. Ele era conhecido por seu temperamento colérico e por sua aversão maníaca às mulheres: seu biógrafo, José de Lezamis, relata que ouvira o bispo dizer “que se soubesse que alguma mulher tivesse entrado em sua casa, mandaria trocar o chão que ela pisara [...]” (LEZAMIS, 1738, p. 75). Também era grande admirador do Padre Antônio Vieira, chegando a dedicar-lhe, no mesmo ano em que Vieira havia tido problemas com a Inquisição, o texto Conclusiones a toda la teología. Paz conclui que o propósito da publicação não autorizada, sob um pseudônimo feminino e aparentemente autointitulado Atenagórica — digna da sabedoria de Atena —, da crítica de Juana ao sermão de Vieira, era provocar o arcebispo.
A Carta gerou uma grande polêmica tanto nas Américas quanto na Espanha. Juana recebeu diversas críticas e ameaças. Apesar da declaração da Inquisição, na Espanha, de que não havia nada de herético na carta, ela ainda foi frequentemente acusada de heresia no México. Em resposta a essa perseguição e à carta pseudônima de Fernández, Juana publica em 1691 a Respuesta a Sor Filotea de la Cruz, onde pretende justificar sua produção literária secular e seu interesse por assuntos não teológicos. A Respuesta foi ignorada por Fernández de Santa Cruz, junto com as correções que Sor Juana fez à Carta Atenagórica. Miguel de Torres, biógrafo de Santa Cruz e sobrinho de Juana Inés, sequer as menciona.
Em 1693, Juana abandona a escrita e dá sua biblioteca e instrumentos, além de muitos bens do convento, ao arcebispo Aguiar, que os vende e doa os ganhos. Nos próximos anos, Juana apresenta à Inquisição um pedido de misericórdia e perdão por seus “pecados enormes e sem igual”, e escreve dois documentos em sangue reiterando sua fé no dogma da Puríssima Conceição. Calleja relata que a poeta passa a se flagelar e Oviedo, biógrafo de Nuñez, relata também que o rigor na penitência de Juana necessitava da atenção de seu confessor, “para que não acabasse nas mãos de seu fervor a vida.”
A escritora passa seus últimos anos dedicando-se completamente à penitência e a serviços de caridade. Seus biógrafos e críticos católicos mais conservadores, com poucas exceções, vêem esse momento como uma aceitação virtuosa da fé que a permitiu “volar a la perfeccíon”, gerando seu apelido de Fénix de México. Schons compara-a ao filósofo francês Pascal em seu manuscrito não publicado e interpreta, em seu artigo Some Obscure Points in the life of Sor Juana Inés de la Cruz, seus últimos anos como uma aceitação da condição em que se encontrava. Paz, e muitos outros críticos modernos, vêem a submissão de Juana como uma imposição do alto clérigo e resultado de uma perseguição.
Juana Inés morreu na manhã de de 17 de abril, com aproximadamente 46 anos. Os documentos contemporâneos registram uma doença como causa de morte.
2. OBRA
Ao longo da vida, Juana Inés produziu um grande número de poemas, peças teatrais religiosas e seculares, algumas prosas, um tratado perdido de musicologia e um pequeno livro de enigmas. Destaco aqui três obras que compõem o núcleo da produção de caráter filosófico da autora: Primero Sueño, Carta Atenagórica e Carta Respuesta a Sor Filotea de la Cruz — sem pretender esgotar seu pensamento, que se estende a toda sua obra escrita.
2.1 PRIMERO SUEÑO
Na Respuesta a Sor Filotea de la Cruz, Juana escreve: “No me acuerdo haber escrito por mi gusto sino es un papelito que llaman El sueño”. Este papellito seria uma longa silva publicada sob o título de Primero Sueño no segundo tomo de suas obras completas (1692). Ele é considerado pela crítica a obra mais importante da autora, e aclamado como um dos mais ricos poemas filosóficos da língua espanhola.
O título da publicação do poema — Primero sueño, que así intituló y compuso la madre Juana, imitando a Góngora — traz as Soledades de Góngora como sua principal influência no campo literário. Não só o Sueño de Juana Inés faz múltiplas referências diretas às silvas de Góngora como segue na mesma métrica, usufruindo de seu vocabulário e forma. As diferenças entre os dois textos são, porém, de grande importância: nas Soledades a alma livre de seu corpo adormecido viaja por um mundo onírico habitado por pessoas, paisagens, casamentos, festivais, o campo e o mar — os poemas são contemplações e questionamentos sobre o humano em sociedade, por meio da écfrasis de um mundo idílico. Por outro lado, a silva de Juana Inés trata de outro tipo de sonho: o intelecto alado sobrevoa um mundo em penumbra, desabitado e silencioso, enquanto busca se elevar. Os acompanhantes do espírito são formas geométricas, obeliscos e pirâmides que não projetam sombra, dispersos no espaço de um universo infinito. Assim, a forma humana se ausenta após o anoitecer, dando lugar às categorias e faculdades do intelecto. A peregrinação onírica da alma não é sem pretensão; seu impulso é intelectual, visando a conhecer o invisível e o imóvel, e seu voo é em direção à Causa Primeira.
Sphaera Amris de Athanasius Kircher, em Oedipus Aegyptiacus (1652-1654).
Fonte: Wikimedia Commons.
2.1.1 RESUMO
O poema trata desta busca impulsiva pelo conhecimento. Nela, dois métodos são utilizados ao longo da narrativa e, entre eles, um interlúdio apresenta as pirâmides egípcias como uma imagem emblemática do tema. O primeiro método é o do conhecimento imediato, e se aproxima do entendimento neoplatônico: a alma reconhece sua faculdade racional como perfeita emanação do Todo e não supõe obstáculos para seu olhar, que se põe sobre os objetos do mundo. Na empreitada inicial do espírito que, sob o signo de uma águia que voa em direção ao monte mais alto, destrói-se a cada batida de asas, Juana nos apresenta esta ambição como arrogante e fútil. De fato, ao final da ascensão neoplatônica, não só a emanação se mostra incapaz de entender o Todo, como o olhar da razão se perde na Multiplicidade pela abundância de objetos que esgotam seu campo de visão.
Antecipando o fracasso do primeiro voo, o interlúdio das pirâmides apresenta-as como construções emblemáticas da ambição intelectual humana, a chamada “pirâmide mental”. Em um elaborado jogo simbólico, que se inspira na egiptologia e hermetismo do Oedipus Aegyptiacus de Kircher, a forma piramidal — corpo da noite nos primeiros versos — torna-se uma representação da ambição do intelecto que, apontando para a centelha divina, almeja por natureza o conhecimento, ou seja, o retorno à sua origem divina. Nas palavras de Juana Inés:
las Pirámides fueron materiales
tipos sólo, señales exteriores
de las que, dimensiones interiores,
especies son del alma intencionales:
que como sube en piramidal punta
al cielo la ambiciosa llama ardiente,
así la humana mente
su figura trasunta,
y a la Causa Primera siempre aspira,
céntrico punto donde recta tira
la línea, si ya no circunferencia
que contiene, infinita, toda esencia.
(Primero Sueño, vv. 400-411)
Após o interlúdio e o fracasso da intuição imediata, a segunda peregrinação da alma se dá por um método analítico, subindo a escada das categorias aristotélicas. Apesar de frutífera no que diz respeito aos particulares, a mediação das categorias dá amplo espaço para dúvidas e para a razão questionar o método. Neste demorado questionamento, o sol nasce, as cores invadem os sentidos do corpo, e a alma é forçada de volta à matéria sem ter vislumbrado a Causa Primeira.
2.1.2 INTERPRETAÇÕES
A riqueza literária do Primero Sueño abre espaço para uma grande variedade de interpretações para o poema. Dentre os críticos que já se debruçaram sobre o texto, talvez a premissa mais amplamente aceita seja a do paralelo do poema com as Soledades de Góngora. Desde a publicação da silva de Juana Inés, em 1662, apontam-se as semelhanças: Calleja faz a relação entre os poemas em sua Aprobación, afirmando que, apesar de inferior ao de Góngora, “vuelan ambos por una Esfera misma.”. Pela irrefutabilidade da semelhança entre os textos, a maioria das interpretações atuais busca uma análise focada nas diferenças, gerando um amplo corpo de discussões sobre o papel da imitação na literatura, tais como, para citar alguns: Sor Juana and Luis de Góngora: The Poetics of Imitatio de José Pascual Bruxó; e também Las sombras de lo fingido. Em Sacrificio y simulacro en Sor Juana Inés de la Cruz, Jean-Michel Wissmer destaca o valor artístico atribuído à imitação na renascença, e o uso subversivo que Juana faz das referências às silvas de Góngora e às Metamorfoses de Ovídio.
A presença de múltiplas menções a fenômenos óticos e a emblemas no poema é também analisada pelo vínculo com o papel da representação e da imitação; em Emblems, Optics and Sor Juana’s Verse: "Eye" and Thou, Frederick Luciani aponta para o caráter autossubversivo da visão tal como apresentado nos livros de emblemas e nos poemas de Juana Inés. Este tema se mostra relevante em diversos textos da autora: em Otro soneto a la esperanza (soneto 152), brinca-se com as falhas da visão, com o paradoxo dos óculos que, ao distorcer a vista, permitem a visão, e com a imagem da manus oculata — figura recorrente nos livros de emblemas da época que apresenta uma mão com olhos, representando a visão que não pode ser enganada. Também em um de seus versos mais famosos, escrito em resposta a seus críticos — “y diversa de mí misma entre vuestras plumas ando” (vv. 18-19, romance 51) — o lugar da identidade na autoria é problematizado. De fato, o espírito do Primero Sueño não se identifica até que amanhece e a luz do sol restaura as cores das coisas. Somente o último verso, “el mundo iluminado, y yo despierta” (v. 975), indica que se trata do sonho de uma mulher, pelo uso do adjetivo feminino despierta, que talvez se refira à própria autora.
Reflexões acerca da posição da mulher enquanto intelectual são tema principal da Respuesta, mas já estão presentes em muitos textos anteriores, inclusive no Primero Sueño. O feminismo se torna então uma ótica proeminente para análises da silva desde o começo do século XX, quando Miguel de Unamuno, em Sor Juana Inés, hija de Eva, descreve a autora como “precursora y profetisa del más refinado feminismo de hoy en día”, e Schons declara-a a primeira feminista das Américas. Em A Feminist Rereading of Sor Juana’s Dream, Sabbat de Rivers aponta para a abundância de substantivos femininos centrais para o poema, e para o uso que Juana faz da flexão em gênero feminino, propondo a ideia de um feminismo linguístico. Em El Sueño: Cartographies of Knowledge and the Self, Jacqueline C. Nanfito faz uso dos conceitos que Julia Kristeva desenvolve no ensaio Les Temps des femmes para propor que o sonho de Juana abandona o tempo linear ou histórico em prol de um tempo mais fluido, ou feminino. Nesta ótica também as referências à mitologia greco-romana ganham uma relevância especial: Nictímene e as Miníades, mulheres punidas pelos deuses e transformadas em animais noturnos; e Minerva, figura recorrente no poema, dentre outros, são objetos das análises de Rivers no capítulo já mencionado.
2.2 CARTA ATENAGÓRICA E RESPUESTA A SOR FILOTEA DE LA CRUZ
Folha de rosto de Carta athenagorica de la Madre Juana Ynes de la Cruz.
Fonte: Wikimedia Commons.
Em novembro de 1690, circula por Puebla o folheto Carta atenagórica de la madre Juana Inés de la Cruz [...]. Trata-se de uma crítica de Juana Inés a um sermão do mandato do padre Antônio Vieira, pronunciado na capela de Lisboa em 1650, tratando do amor de Cristo nos seus últimos dias. A carta fora escrita por encomenda, para um destinatário particular, o bispo Manuel Fernández de Santa Cruz, sob o título original de Crisis de un sermón — sendo, porém, impressa e distribuída por ele. A origem do tema da carta está aparentemente em um debate oral que teria ocorrido no convento de Juana, onde Santa Cruz teria ouvido as opiniões da autora.
Do Mandato, ou Sermão do Mandato, tem um título comum aos sermões predicados na Quinta-feira Santa. Nele, Vieira trata do que chama as maiores “finezas” de Cristo antes da morte. O termo, comum a ambos o português e ao castelhano, é definido no Diccionario de Autoridades de 1732 como “Perfección, pureza y bondad de alguna cosa en su línea”, mas também como “acción o dicho con que uno da a entender el amor y benevolencia que tiene a otro”. Juana Inés e Vieira usam ambas as definições — na Carta Atenagórica: “¿Es fineza, acaso, tener amor? No, por cierto, sino las demostraciones del amor: ésas se llaman finezas. Aquellos signos exteriores demonstrativos, y acciones que ejercita el amante, siendo su causa motiva el amor, eso se llama fineza.” (472-476); e no Sermão do Mandato: “O amor fino é aquele que não busca causa nem efeito; ama porque ama e ama para amar.”.
O sermão pretende expor as posições de três santos — Agostinho, Tomás de Aquino e Crisóstomo — sobre a maior fineza dos últimos dias de Cristo, para então afirmar uma maior que a dita por estes e, por fim, sua posição no assunto. A carta, por outro lado, defende as posições dos santos antes de, também, posicionar-se.
2.2.1 AS OPINIÕES DOS SANTOS E DE VIEIRA
Assim se seguem os argumentos: Santo Agostinho diz que a maior fineza de Cristo foi morrer pelos homens, ao que Vieira responde que mais fino foi ausentar-se perante os homens. A distinção é sutil; o jesuíta procura afirmar que, para Cristo, mais valia a presença perante os homens do que a própria vida. Se é maior a fineza que mais custa ao amante, tal como quer Vieira, então maior fineza fora ausentar-se do que morrer.
Juana aponta que se distingue dentre as finezas suas finalidades: a quo, da parte de quem a faz, e ad quem, para quem é feita. Maior é a primeira conforme mais custa para o amante, enquanto maior é a segunda conforme mais beneficia o amado. Maior fineza seria, então, não só aquela que mais custa ou que mais beneficia, e sim aquela que mais custa e mais beneficia. Assim, é a vida, e não a presença, que mais vale: foi pelo sacrifício que Cristo redimiu — ou seja, que mais beneficiou, pois não haveria benefício maior que a redenção —, e o sacrifício foi abrir mão da vida. Além disso, acrescenta que Cristo sequer se ausentou, pois permaneceu presente, sacramentado. Como diz num vilancete, essa presença é estado de vida e morte, estando presente mesmo que morto: “y ya sé que Cristo, / en el sacramento, / estando glorioso, / está como muerto.” (vilancete 345, vv. 38-41).
São Tomás diz que a maior fineza de Cristo foi sacramentar-se; São Crisóstomo, por sua vez, diz que foi lavar os pés de seus discípulos. Para Vieira, em relação a Tomás, mais fino foi sacramentar-se sem o uso dos sentidos, e em relação a Crisóstomo, não foi lavar os pés, e sim a motivação para fazê-lo que foi mais fina. A resposta de Juana abarca os erros formais das proposições; sobre Tomás, ela escreve: “El Santo propone en género; el autor responde en especie. Luego no vale el argumento.” (355-357), ou seja, sacramentar-se sem o uso dos sentidos é uma espécie de sacramento, e não poderia ser mais fino do que sacramentar-se, em gênero. Quanto à opinião de Crisóstomo: lavar os pés dos discípulos foi efeito de sua causa, ou seja, da motivação que levou Cristo a fazê-lo. Não se pode dizer que Crisóstomo acreditava que o ato foi feito sem qualquer causa, logo, a motivação do ato já está incluída na opinião do santo, e julgar que a causa fora mais fina do que a própria ação, que já comporta tanto causa quanto efeito, é um erro de categoria.
Vieira conclui, então, com sua opinião — admitindo que não constam na Bíblia exemplos ou demonstrações desta —, que a maior fineza de Cristo foi amar os homens sem esperar que o amassem de volta, exigindo apenas que amassem uns aos outros. A posição é facilmente refutada, e Juana não deixa de citar múltiplos trechos que comprovam a posição ortodoxa de que Cristo exige dos cristãos que o amem.
2.2.2 A OPINIÃO DE JUANA INÉS
Terminada a tarefa de criticar as posições que Vieira toma ao longo do seu sermão, Juana expõe, então, sua própria com um diferencial: não pretende tratar da maior fineza de Cristo em vida, e sim de “Deus enquanto Deus” — da fineza contínua (965). Assim, a maior fineza para Juana é negativa; são todos os benefícios que Deus deixa de dar aos homens. Argumenta que Ele, de infinito amor e plena capacidade de conferir aos homens todo e qualquer benefício, mesmo assim deixa de fazê-lo, pois seria retribuído com ingratidão pecaminosa. A maior fineza é, então, facilitar a vida piedosa, ao não fazer com que suas inúmeras dádivas tenham de ser recebidas graciosamente, algo que não se poderia esperar dos homens.
Mudando o eixo da questão da fineza de Cristo em vida para a fineza de Deus, sua opinião se redimensiona na discussão sobre o livre-arbítrio na teologia, tema muito recorrente na Espanha dos séculos XVI e XVII. Através da noção de favores negativos exposta na Carta, Juana se aproxima da ideia de graça eficaz tal como na doutrina da providência divina no Molinismo, doutrina Jesuíta do século XVI, conciliando o Deus onipotente com a possibilidade da liberdade humana em face à ameaça do fatalismo teológico. Juana, porém, conclui a carta sem se aventurar pelo tema.
2.2.3 CARTA RESPUESTA A SOR FILOTEA DE LA CRUZ
Ao publicar a Carta Atenagórica, o bispo Manuel de Santa Cruz incluiu uma nota, sob o pseudônimo Sor Filotea de la Cruz criticando a dedicação de Juana aos assuntos mundanos — à poesia e teatro secular e à filosofia, e sugerindo que a autora se dedicasse inteiramente à leitura das Escrituras e aos seus deveres como freira. A crítica não se refere especificamente à Carta Atenagórica, de tema limitado à teologia, e sim à própria figura de Juana Inés, que já possuía fama como escritora e intelectual. Da nota de Santa Cruz, cujo tom varia entre elogios afetuosos e sutis ameaças, seguiram-se críticas mais agressivas por outras figuras, sugerindo que a Carta era herética não por seu conteúdo, mas por ser escrita por uma mulher. Defensores da filósofa também se manifestaram, escrevendo textos (destacam-se o Discurso apologético e Carta de Serafina de Cristo) dentre os quais figura um único opositor forte a Juana, autor da Fe de erratas, que assinou somente como El Soldado. Este escrito não foi encontrado, portanto seu conteúdo é desconhecido para além do que as defesas apontam: um texto escrito por um membro do alto cléro — cuja identidade todos conheciam, mas não mencionam —, de tom vulgar e agressivo.
É no contexto dessa polêmica que Juana escreve, em 1691, uma longa carta com o fim de defender-se das acusações: a Carta Respuesta a Sor Filotea de la Cruz. O texto, porém, só viria a ser publicado em 1700, cinco anos após a morte da autora, e nove anos depois do fim da polêmica. Seu fio condutor diz respeito à oposição de Santa Cruz: se uma mulher, especialmente uma freira, deveria dedicar-se aos assuntos seculares, filosóficos, científicos e às letras profanas. Para responder às acusações, Juana traça uma autobiografia intelectual, de tom parcialmente confidencial, antes de propor que o estudo, tanto de assuntos sagrados quanto profanos, cabe também às mulheres da Igreja.
A escrita da Respuesta é um forte contraste à da Atenagórica; a defesa da ortodoxia, de argumentos breves e formais, dá lugar a um testemunho pessoal, autorreflexivo, entretendo devaneios e anedotas. Paz compara a carta a um Primero Sueño em prosa: “[...] se este [o Primero Sueño] é o isolado monumento do espírito em sua ânsia de conhecer, a Respuesta é o relato dos afãs diários do mesmo espírito, contados numa linguagem direta e familiar.” (PAZ, 2017, p. 492).
Assim, por um lado, a solidão do espírito no Primeiro sueño encontra seu correspondente no relato do autodidatismo da Respuesta e, por outro, ambos invocam as figuras das leituras de Juana para acompanhá-la. Na Respuesta, a autora traz ao seu lado um grande número de mulheres doutas: a profetisa Débora; a rainha de Sabá; Abigail; Ester; Rahab; Ana, mãe de Samuel; as Siblas; Minerva; Pola Argentaria; a filha de Tirésias; Zenóbia; Areté; Carmenta; Aspásia; as Milésias; Hipatia; Leôncia; Corina; Cornélia; Catarina de Alexandria; Gertrudes de Helfta; Paula, Blesia e Eustóquio, irmãs jerônimas suas; Fabiola; Falconia; a rainha Isabel da Espanha; Cristina, rainha da Suécia; a Duquesa de Aveyro e a Condessa de Villaumbrosa.
Essa eclética listagem — que inclui nomes da mitologia greco-romana, da tradição judaico-cristã, filósofas, místicas, poetas e contemporâneas suas —, não é vã demonstração de erudição, pois junto com o trecho de 1 Coríntios 14:33-35, onde São Paulo diz que as mulheres devem permanecer em silêncio na Igreja, introduz o tema que lhe interessa: se as mulheres devem estudar e interpretar as Escrituras. Nota-se que, anteriormente, Juana aponta que o estudo da Bíblia exige todo tipo de conhecimento. A autora se pergunta, remetendo novamente ao Primero Sueño: como entender o conhecimento mais elevado sem antes todos os outros? Assim, se a leitura da Bíblia exige todo tipo de conhecimento, propor que as mulheres devem poder estudar, e ensinar, teologia, é também propor que devem poder estudar e ensinar muitos outros assuntos. Citando um teólogo mexicano, Juan Díaz de Arce, e diversas outras autoridades da Igreja, Juana conclui que as mulheres, tal como os homens, têm o dever moral de estudar, ensinar e interpretar a Bíblia — sob a condição de que o façam em lugares privados, para não ofender a tese de São Paulo. Trata-se de uma posição muitas vezes classificada como protofeminista: de alguma forma subversiva do patriarcado eclesiástico e propositiva de uma ampliação dos espaços sociais das mulheres, porém demasiada deslocada das ideias e dos movimentos feministas mais recentes, que muitas vezes lutaram justamente contra essa restrição aos espaços privados — a força da colocação se perde entre esses dois campos.
BIBLIOGRAFIA
OBRAS COMPLETAS
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______. Fama y obras póstumas del fénix de México, décima musa, poetisa americana, Sor Juana Inés de la Cruz, religiosa profesa en el convento de San Jerónimo de la Imperial Ciudad de México, conságralas a la majestad católica de la reina Nuestra Señora doña Mariana de Neoburg Baviera Palatina del Rhin, por mano de la Excma. Señora doña Juana de Aragón y Cortés, duques de Montoleón y Terranova, marquesa del valle de Oaxaca, el doctor don Juan Ignacio de Castorena y Ursúa, Capellán de Honor de su majestad, Protonotario, Juez Apostólico por su santidad, teólogo, Examinador de la Nunciatura de España, prebendado de la Santa Iglesia Metropolitana de México. 1700. Fotocópia disponível em: Fama y obras póstumas - Bielefeld - Digitale Sammlungen. Acesso em 22 fev. 2021
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OUTROS MATERIAIS
Portal Sor Juana Inés de la Cruz na Biblioteca Virtual Cervantes:
Sor Juana Inés de la Cruz (cervantesvirtual.com)
Entrevista com Octavio Paz e Sabat de Rivers sobre Juana Inés:
Parte 1 LA PERSONA Y LA OBRA DE SOR JUANA I - Conversaciones con Octavio Paz
Parte 2 LA PERSONA Y LA OBRA DE SOR JUANA INES DE LA CRUZ 2 - Conversaciones con Octavio Paz
Musicalização de alguns Vilancetes:
Música para Dios: Villancicos de Sor Juana Inés de la Cruz
Dicionário histórico do começo do século XVIII disponibilizado pela Real Academia Española: